segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 Hora a Hora!

Na crista da onda…

Tinha 9 anos em 25 de Abril de 1974. Recordo-me da felicidade da minha turma da 4ª classe, na escola do Grémio da Póvoa de Varzim (lembras-te Vasconcelos), por nos terem mandado para casa porque “ havia problemas em Lisboa”. Cheguei a casa e a minha mãe (professora do 1º ciclo), já lá se encontrava, absorta a olhar para as imagens que chegavam da Revolução. Assisti a períodos conturbados a nível de luta política (Verão Quente em Braga de 75 e o assalto à sede do PC no Campo da Vinha), mas sem compreender, com alguma certeza, aquilo que ali se jogava.
Só bastante mais tarde, aquando da envolvência com alguns colegas/amigos em Associações de Estudantes do Secundário, em RGAs e, particularmente, em campanhas políticas, me apercebi daqueles que são para mim os valores fundamentais de Abril: Democracia, Cidadania; Solidariedade, Verdade e Conhecimento.
Hoje, casado, com 46 anos, 2 filhos e uma profissão (desculpem mas para mim não é um emprego), fico espantado como em tão pouco tempo (a partir do final dos anos 80), foi possível esquecer tanto e deixar de praticar estes valores. Assisto amiúde, ao que “ hoje é verdade amanhã é mentira”, ao “ não tenho opinião formada”; vejo que lutar pelo que consideramos estar certo (de acordo com as regras da responsabilidade democrática), foi ultrapassado pelo “ Chico-espertismo” e pelo “ safei-me”; agonia-me ver que se hoje apoiamos uma ideia, um projecto, um ideal, também podemos apoiar o oposto imediatamente amanhã (oh santa ingenuidade!). Assim passamos a ter como passatempo nacional, a prática do “ surf” (ideológico porque o outro pode ser mais perigoso), tentando sempre navegar na crista da onda, escolhendo a que nos leve, individualmente, mais longe ou mais perto do que queremos alcançar.
Assim só me resta dizer e mostrar aos meus filhos e aos meus alunos que, ainda acredito, ainda luto e ainda espero ajudar a construir um Portugal melhor.
Quanto mais não seja, devo isso a quem me possibilitou escrever este texto… devo aos capitães de Abril… devo isto ao meu país…devo isto a mim mesmo!

Amadeu Faria (coordenador do NE25A).

1 comentários:

m.marques disse...

Boa tarde!
Antes de mais devo felicitar esta iniciativa!

Esperei sair todos os textos e fazer um único comentário, para não cair na repetição, mas se isto tivesse etiquetas com “like” teria colocado na maioria!

Estou perto de fazer 21 anos e não sei o que é não poder escrever, não sei o que é sufocar o que penso, não sei o que é não poder votar. Eu sei que devo tudo isto à Revolução dos Cravos! Ensinaram-me na escola e eu admirei essas pessoas que no dia 25 de Abril de 1974 saíram à rua. Mas mais do que isso “devo isto a mim mesmo”, pois tive uma família que me educou para ser cidadã de um país livre e democrático e que eu aprendi a respeitar e a perceber.

Prometo ter sempre em conta as palavras da Professora Isabel Lages ” Não descansem, lutem e preservem as conquistas de Abril. O futuro faz-se com determinação, honestidade e muito trabalho.” E tentar a todo o custo transmiti-las aos meus colegas e gerações vindouras. Porque percebo perfeitamente que o significado de Abril tem vindo a perder-se… A minha geração não dá valor ao que tem, porque simplesmente nunca teve privações. Talvez se fosse proibido votar iriam protestar, não ficariam no sofá porque dá muito transtorno sair de casa para o fazer.

Com tudo isto, quero agradecer as palavras aqui escritas, muitas delas extremamente sentidas, que me fizeram reflectir, querer fazer mais, muito mais por um Portugal melhor (entregar as senhas do almoço, não optar pelo facilitismo, entre outras atitudes, já são um passo para ajudar o meu país).

Obrigada tio pela oportunidade de conhecer melhor a nossa história, de respeitar e admirar ainda mais as pessoas que me fizeram ter direito a falar! Obrigada mãe por me deixares gastar dinheiro nos transportes para poder vir votar, por me explicares o que é a democracia e, por me dares o direito de fazer opções! Obrigada a todos por me (re)lembrarem que a liberdade não é um bem adquirido, mas sim algo pelo qual tenho que lutar, fazer por merecer!

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