segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 Hora a Hora!

O 25 de Abril e as minhas opções de vida

Quando se deu o 25 de Abril, eu frequentava o 6º ano de escolaridade.
Vocês, rapazes e raparigas que agora têm a mesma, ou pouco mais idade do que eu tinha nessa altura, não imaginam o que se passou nas escolas.
Olhando para trás, continuo, como sempre, maravilhado com o nível de discussão que tínhamos naquela altura e nos anos que se seguiram.
Havia discussão política, se é que lhe podemos chamar assim para garotos e garotas daquela idade. Sabem, é que eu tinha uma colega cujo pai havia estado preso às mãos da PIDE, essa terrível polícia do pensamento. Como é que era possível haver uma polícia para o pensamento, perguntarão? Sendo os dinamizadores deste blogue tão empenhados, por certo que o saberão mas, e os outros colegas?
Pensem só o que significava não se poder exprimir em voz alta aquilo que nos ia na alma, como hoje é dado adquirido.
Mais ou menos por essa altura, presenciei uma cena que me marcou imenso: ia eu na minha rua, a caminho de um recado para a minha mãe, quando vi um homem a agredir outro mais novo. A cena passava-se numa marcenaria que por ali existia e o agressor era o patrão, homem bronco, que não aceitou um erro qualquer do jovem trabalhador. Fiquei revoltado e dei razão aos políticos que então espalhavam as suas ideias, proclamando o fim da exploração do trabalhador pelos patrões daquele tipo.
Durante o meu percurso no ensino secundário, onde as associações de estudantes eram ideológicas, fui cristalizando as minhas opções políticas. Antes de entrar para a Universidade, tive ocasião de trabalhar em duas fábricas, onde me apercebi da dura vida dos trabalhadores que vivem com o salário mínimo (que também eu ganhava). Havia famílias inteiras a trabalhar para o mesmo patrão e com poucas perspectivas de melhorar a sua vida. Como podia eu fazer outra coisa se não ligar-me à actividade sindical na minha vida adulta?
O ambiente nas fábricas, quase de trabalho forçado, levou-me a não desistir de estudar, de modo a aspirar a uma vida melhor.
Hoje sou professor de Inglês e sou activista e dirigente sindical. Acredito que só estando juntos poderemos fazer com que a vida de todos e de cada um seja melhor, quer em termos profissionais, quer em termos de dignidade.
Para atingirmos este objectivo, é necessário ter uma atitude empenhada e cívica. Pensem se não há mais força quando estamos a trabalhar em equipa, quando remamos todos para o mesmo lado, por assim dizer. É preciso participar, dar opiniões, votar, quando a isso formos chamados.
Se hoje posso exercer esta actividade de sindicalista, ao 25 de Abril o devo. Antes da Revolução teria imensas hipóteses de ser preso, só por reivindicar melhor vida e condições de trabalho para os trabalhadores e trabalhadoras.

Paulo Costa, professor na EB 2,3 de Lousada e Dirigente Sindical do SPN (Sindicato dos Professores do Norte)

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