segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 Hora a Hora!

Parece que houve uma Revolução….!!!

Vi, naquele dia, a minha mãe entrar em casa, ansiosa e perturbada. Tinha escutado na padaria que parecia ter havido uma revolução. Comentava-se no quiosque do Senhor Vítor e lá, já estavam atentos ao “transístor”, o senhor Manuel da Mercearia e o dono da Pastelaria do Bocage. Eram 7.30 da manhã, arranjava-me para iniciar mais um dia de estudos, no Liceu Rainha Santa Isabel.
Vi, o meu pai a ligar, imediatamente, a rádio cedendo ao pedido da minha mãe. Os comunicados do MFA a sucederem-se e a repetirem-se, nas várias estações. Nós incrédulos, a medir palavras, sons e músicas que dali vinham, a comprovarmos se, na verdade, estava a acontecer uma Revolução. A emoção começava a tomar conta daquela casa. Não mais esqueço o brilho nos olhos do meu pai.
Vi a Reitora do meu Liceu, apavorada e meia atarantada, a dar ordens aos contínuos do Liceu, para fechar as portas e não deixar entrar nenhuma aluna. Percebi que a situação era “muito séria” e a Revolução estava a marchar. A Reitora nunca fora mulher, para ficar naquele desalinho!
Vi na rua do Heroísmo, junto da Delegação da PIDE/DGS, por volta das 12.30, algumas pessoas, de olhares tímidos, a mirar o edifício. Outras disfarçavam a sua presença e entravam no cemitério do Prado Repouso. Aquele era o pior local da cidade, para o meu pai. Todos os anos, renovava lá o seu passaporte e houve algumas circunstâncias na sua vida que ali permaneceu, horas a fio, a ser interrogado. No dia 26 de Abril, aquela praceta e parte da rua do Heroísmo converteu-se num clamor à liberdade.
Vi, ao portão, desse edifício uma senhora a falar de forma expedita e calorosa com os militares. Era a Engenheira Virgínia de Moura, ex-presa política e grande figura antifascista da cidade do Porto.
Vi a Praça da Liberdade, durante a tarde do 25 de Abril a encher-se de gente e a polícia, desamparada e pouco confiante é certo, mas ainda a investir sobre a multidão sobressaltada, embora os comunicados do MFA apelassem à calma e à não-violência. Muitas palavras de ordem soltaram-se na praça, naquele dia. Todas distintas e gloriosas. Ao fim da tarde, a chegada de militares e uma toada de assobios arrastou a polícia do local. A liberdade estava a passar por ali. O fascismo definhava e um novo futuro despontava. Tinha dezasseis anos e estava deslumbrada.

Manuela Martinez, Professora

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