“No decorrer
da segunda metade do século XIX, a Europa conhece um forte desenvolvimento
económico com um correspondente aumento da produção. Esta situação exige das
potências europeias, como a Inglaterra, a Alemanha ou a França, a exploração de
novos mercados e de novas fontes de matérias-primas. É neste contexto que se
afirma o crescente interesse destes países pelo continente africano e pelo
expansionismo colonial. Alertados para
essas pretensões, sobretudo após a Conferência de Berlim (1884-85), alguns portugueses
têm a pretensão de formar um vasto território na África Central, um novo
Brasil, ligando os litorais de Angola e Moçambique - o chamado "Mapa
cor-de-rosa". No entanto, esta pretensão chocava com os planos do
expansionismo inglês. Daí que a Inglaterra responda com um ultimato ao governo
português que este acaba por acatar.
A humilhação subsequente da
população portuguesa desemboca na revolta republicana ocorrida na guarnição
militar do Porto, na madrugada de 31 de Janeiro de 1891. Sendo o culminar de
uma onda de descontentamento que o ultimato de Janeiro de 1890 gerara em todo o
país, foi a primeira revolta de cariz republicano a abanar as estruturas
monárquicas.
Após o Ultimato inglês,
generaliza-se um pouco por todo o país, e sobretudo entre as classes mais
esclarecidas, a crença de que o sistema republicano seria a única tábua de
salvação.
Nas cidades de Lisboa e
Porto, com especial incidência nesta última, conspirava-se por todo o lado, de
forma aberta e participada por vários sectores da cidade, em que se destacaram
estudantes, jornalistas, juristas e sargentos. A impunidade com que os
republicanos portuenses se moviam e proclamavam os seus ideais fê-los crer que
a revolta teria a adesão das forças militares estacionadas no Porto. Este facto
explica a precipitação e a profusão de erros estratégicos cometidos pelos revoltosos.
Assim, ao contrário do
esperado pelos republicanos, a maior parte dos regimentos não saiu dos
quartéis. Só o batalhão de Caçadores 9, comandado por sargentos, a que mais
tarde se juntou o alferes Malheiro e alguns batalhões chefiados pelo capitão
Leitão, aderiram à intentona, concentrando-se no Campo de Santo Ovídio, hoje
Praça da República. Daí, dirigiram-se aos Paços do Conselho do Porto e, da
varanda, por entre vivas à República, foi proclamada por Alves da Veiga a
implantação da República e anunciada a constituição de um Governo Provisório. Parecia que a revolta estava
terminada, apesar da fraca adesão dos militares, em especial do corpo de
oficiais da cidade.
No entanto, quando as tropas
revoltosas subiram a rua de Santo António, hoje 31 de Janeiro, para se juntarem
à Guarda Municipal, esta abriu fogo do cimo da rua sobre os revoltosos e os
civis que os acompanhavam, dispersando uns e prendendo os responsáveis
operacionais da revolta; sargentos e praças foram detidos e levados a Conselho de
Guerra em Tribunal Militar.
Muitos revoltosos ainda se
refugiam no edifício da Câmara, mas a derrota estava consumada. Entretanto,
entre outros líderes republicanos, Alves da Veiga conseguiu fugir para o
estrangeiro.
Mas, a 31 de Janeiro de 1908
– há que recordá-lo também -, em plena ditadura de João Franco, depois de
esmagada outra reacção revolucionária republicana em 28 de Janeiro, o Rei D.
Carlos I assinou um Decreto que conferia ao ditador poderes de excepção,
permitindo-lhe perseguir, prender e deportar, sumariamente – sem processo
judicial -, qualquer pessoa suspeita de republicanismo activo, ou de mera
insubmissão ao regime e ao governo, decreto esse que terá motivado o atentado
regicida levado a cabo no dia seguinte, um de Fevereiro, em que toda a família
real foi vítima, sucumbindo o Rei e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe,
escapando a Rainha e, ligeiramente ferido, o infante D. Manuel, depois Rei de
Portugal até 5 de Outubro de 1910, data da revolução e implantação definitiva
da República Portuguesa.”