terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Opinião... A crise e o Neoliberalismo

O "Opinião", é um espaço de divulgação de textos que mostrem a liberdade nas suas diferentes matizes. Este espaço é da responsabilidade dos autores de cada texto, estando o NE25A aberto à publicação de textos que nos queiram enviar (obedecendo às regras de uma cidadania responsável e democrática).
O de hoje é da responsabilidade de Zeferino Lopes,professor:

"A crise e o neoliberalismo
Está cada vez mais evidente que a crise financeira de 2008, que está na origem da atual crise das dívidas soberanas, não sucedeu por acaso mas que foi preparada, planeada e desejada com o objetivo de implementar sub-repticiamente o neoliberalismo à escala europeia e mundial destruindo paulatinamente o Estado Social e obrigando os cidadãos a ter que pagar tudo o que precisam para sobreviver do seu próprio bolso – desde a água à saúde, passando pela educação e assistência. A estratégia começou pelo endividamento das famílias e do Estado acenando-lhes com a cenoura dos juros muito baixos: as famílias endividaram-se para lá das suas capacidades financeiras para comprar casa, carro e férias, e os Estados endividaram-se na loucura dos governos em querer mostrar “obra feita”. Ele foram hospitais e escolas novinhos em folha, foram os estádios de futebol muitos deles agora às moscas, foram as vias rápidas e auto-estradas SCUT e sem SCUT, foram as circulares e as rotundas com mais ou menos arte, foram as piscinas e os pavilhões gimnodesportivos ou multiusos em cada canto, foram as recuperações necessárias dos centros urbanos e assim por diante incluindo as mordomias da classe política e dos amigos, filhos e enteados, na ocupação de lugares da administração do Estado central, da administração local, quando, na prática, estes nada ou quase nada faziam já que os governos encomendavam e pagavam a escritórios de advogados ou economistas quantias astronómicas para fazer estudos e dar pareceres. Conclusão: o Estado faliu, as famílias faliram, e os bancos, porque as empresas e famílias deixaram de poder pagar seus compromissos, faliram também.
Agora, para o Estado e os bancos funcionarem é preciso pedir dinheiro emprestado. Mas isso já estava previsto. O endividamento foi premeditado. Os Estados e bancos falidos não terão outra chance senão cumprir as exigências dos credores. “Nós emprestamos o dinheiro mas só nestas condições: cortar na despesa pública, nos funcionários públicos desde magistrados, professores, médicos, enfermeiros, até militares e agentes de segurança; para isso têm que privatizar a educação, a saúde e a assistência social – quem as quiser que as pague do seu bolso!” Assim em vez de um serviço nacional de saúde teremos seguros de saúde pagos a peso de ouro para termos assistência nos hospitais; em vez de uma reforma paga pela assistência social teremos que pagar seguros de reforma também pagos a preços lucrativos às seguradoras; em vez de um subsídio de desemprego não teremos nada ou então teremos uma subvenção limitada também paga às seguradoras do nosso bolso ao longo dos vários anos de trabalho.
É claro que a nossa constituição impede a destruição do Estado Social: ela diz concretamente que a assistência na saúde, na reforma e na educação (básica) são da responsabilidade do Estado e que são tendencialmente universais e gratuitas. A constituição e o Tribunal constitucional passaram a ser obstáculos à imposição do neoliberalismo. Se são obstáculos à implementação da economia e “sociedade” neoliberais, há que “refundar” o Estado, destruir os obstáculos à marcha neoliberal. Paradoxalmente, a ideologia neoliberal defende o Estado mínimo, remetido a meras funções arbitrais; mas o neoliberalismo, para se impor, precisa da força do Estado, seja pela via democrática, através de eleições enganosas em que se promete umas coisas e fazem-se outras precisamente ao contrário, seja pela força brutal dos golpes de Estado como aconteceu no Chile ou eleições como no tempo de Reagan e da Srª Tacher, grandes defensores da economia liberal e da privatização de tudo a que cheirasse a serviço público incluindo os transportes.
Mas os empréstimos para financiar as “reformas” e o Estado enquanto este as tenta implementar, nada resolvem e isso é propositado: as pessoas falidas não compram, as empresas que trabalham para o mercado interno não vendem e abrem falência e aumenta-se o desemprego, logo a receita fiscal diminui, aumenta a despesa social com os subsídios de desemprego, logo torna-se impossível pagar a dívida.
Segundo a lei da economia liberal da oferta e da procura, quantos mais desempregados houver na procura de emprego e menor for a oferta de postos de trabalho, mais baixos serão os salários. É o que estamos assistindo: enfermeiros pagos a quatro euros à hora, médicos e professores e todos os funcionários públicos incluindo militares e forças de segurança com cortes salariais e sem os subsídios de Natal e de férias. A diminuição dos salários enfraquecerá a economia e mais falências haverá, sobretudo das pequenas e médias empresas: mais desemprego e miséria, salários mais baixos… clima propício para se vender ao desbarato tudo ao grande capital nacional e internacional, à meia dúzia de famílias poderosas que pretendem dominar todos e todo o mundo – privatização de todos os serviços públicos a preço de saldo. Então aparecerão, como aves de rapina e necrófagas, as multinacionais a comprar tudo quanto se privatiza e as empresas entretanto falidas; começarão os investimentos mas sempre com um exército considerável de desempregados para manter os salários baixos. E tudo quanto precisarmos para sobreviver, desde a água aos transportes, da saúde à educação, terá que ser pago ao preço que nos impuserem. Acaba-se a democracia económica e política! É a ditadura do dinheiro, do grande capital!
Essa é a meta para onde nos querem levar. É preciso estarmos atentos e não permitir que tal venha acontecer."
Penafiel, 4 de novembro de 2012.                                     Zeferino Lopes

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