sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

31 de Janeiro de 1891... o que dizer 123 anos depois

 

   


“No decorrer da segunda metade do século XIX, a Europa conhece um forte desenvolvimento económico com um correspondente aumento da produção. Esta situação exige das potências europeias, como a Inglaterra, a Alemanha ou a França, a exploração de novos mercados e de novas fontes de matérias-primas. É neste contexto que se afirma o crescente interesse destes países pelo continente africano e pelo expansionismo colonial. Alertados para essas pretensões, sobretudo após a Conferência de Berlim (1884-85), alguns portugueses têm a pretensão de formar um vasto território na África Central, um novo Brasil, ligando os litorais de Angola e Moçambique - o chamado "Mapa cor-de-rosa". No entanto, esta pretensão chocava com os planos do expansionismo inglês. Daí que a Inglaterra responda com um ultimato ao governo português que este acaba por  acatar.
 A humilhação subsequente da população portuguesa desemboca na revolta republicana ocorrida na guarnição militar do Porto, na madrugada de 31 de Janeiro de 1891. Sendo o culminar de uma onda de descontentamento que o ultimato de Janeiro de 1890 gerara em todo o país, foi a primeira revolta de cariz republicano a abanar as estruturas monárquicas.
 Após o Ultimato inglês, generaliza-se um pouco por todo o país, e sobretudo entre as classes mais esclarecidas, a crença de que o sistema republicano seria a única tábua de salvação.
 Nas cidades de Lisboa e Porto, com especial incidência nesta última, conspirava-se por todo o lado, de forma aberta e participada por vários sectores da cidade, em que se destacaram estudantes, jornalistas, juristas e sargentos. A impunidade com que os republicanos portuenses se moviam e proclamavam os seus ideais fê-los crer que a revolta teria a adesão das forças militares estacionadas no Porto. Este facto explica a precipitação e a profusão de erros estratégicos cometidos pelos revoltosos.
 Assim, ao contrário do esperado pelos republicanos, a maior parte dos regimentos não saiu dos quartéis. Só o batalhão de Caçadores 9, comandado por sargentos, a que mais tarde se juntou o alferes Malheiro e alguns batalhões chefiados pelo capitão Leitão, aderiram à intentona, concentrando-se no Campo de Santo Ovídio, hoje Praça da República. Daí, dirigiram-se aos Paços do Conselho do Porto e, da varanda, por entre vivas à República, foi proclamada por Alves da Veiga a implantação da República e anunciada a constituição de um Governo Provisório. Parecia que a revolta estava terminada, apesar da fraca adesão dos militares, em especial do corpo de oficiais da cidade.
No entanto, quando as tropas revoltosas subiram a rua de Santo António, hoje 31 de Janeiro, para se juntarem à Guarda Municipal, esta abriu fogo do cimo da rua sobre os revoltosos e os civis que os acompanhavam, dispersando uns e prendendo os responsáveis operacionais da revolta; sargentos e praças foram detidos e levados a Conselho de Guerra em Tribunal Militar.
Muitos revoltosos ainda se refugiam no edifício da Câmara, mas a derrota estava consumada. Entretanto, entre outros líderes republicanos, Alves da Veiga conseguiu fugir para o estrangeiro.
Mas, a 31 de Janeiro de 1908 – há que recordá-lo também -, em plena ditadura de João Franco, depois de esmagada outra reacção revolucionária republicana em 28 de Janeiro, o Rei D. Carlos I assinou um Decreto que conferia ao ditador poderes de excepção, permitindo-lhe perseguir, prender e deportar, sumariamente – sem processo judicial -, qualquer pessoa suspeita de republicanismo activo, ou de mera insubmissão ao regime e ao governo, decreto esse que terá motivado o atentado regicida levado a cabo no dia seguinte, um de Fevereiro, em que toda a família real foi vítima, sucumbindo o Rei e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe, escapando a Rainha e, ligeiramente ferido, o infante D. Manuel, depois Rei de Portugal até 5 de Outubro de 1910, data da revolução e implantação definitiva da República Portuguesa.” 


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