Da responsabilidade de Maria João Lopes e inserido na edição de 25/06 do jornal "Público", aconselhamos a análise do artigo que a seguir transcrevemos:
"A esmagadora maioria dos professores do 3.º ciclo em Portugal
considera que a profissão é desvalorizada pela sociedade. No relatório TALIS
(Teaching and Learning International Survey) de 2013, publicado nesta
quarta-feira pela OCDE, só 10,5% dos inquiridos portugueses é que acha que a
sociedade valoriza quem ensina, quando a média dos 34 países analisados se
situa nos 30,9%.
Apesar disso, em Portugal, 70,5% dos docentes considera que as
vantagens de ser professor claramente ultrapassam as desvantagens – a média é
77,4%. Questionados sobre se pudessem decidir outra vez, continuariam a
escolher ser professores, 71,6% acabou por responder afirmativamente (a média é
77,6%). Mas, mesmo assim, há 44,5% que se pergunta se teria sido ou não melhor
escolher outra profissão, contra uma média de 31,6%. E há 16, 2% que se
arrepende de ter feito esta opção – neste caso, a média é de 9,5%. Apesar de se sentirem mais desvalorizados pela sociedade do que
a média dos restantes países, estes docentes estão mais satisfeitos com a
profissão que têm do que a maioria dos colegas estrangeiros. Em Portugal, 94,1%
dos docentes portugueses deste nível de ensino estão satisfeitos com a
profissão, sendo a média ligeiramente inferior (91,1%).
Desproporção entre
professoras e directoras
O relatório também indica que o típico professor do 7.º ao 9.º
ano em Portugal é uma mulher de 45 anos, com 19 anos de experiência em ensinar
e com formação em ensino. E que há uma desproporção entre o número de mulheres
professoras e aquelas que são directoras de escolas. Em Portugal, 73,2% destes
docentes são mulheres (a média é 68,1%), mas apenas 39,4% são directoras de
escolas (contra 49,4%). Em Portugal, a idade das mulheres em cargos de direcção nas
escolas ronda os 52 anos (nos restantes países, é cerca de 51,5) e têm sete
anos de experiência naquela função, quando a média é 8,9. Ou seja, as
directoras são ligeiramente mais velhas e ocupam menos tempo aquelas funções. Na maioria dos países, os directores frequentam um
programa/curso de formação de professores antes de assumirem o cargo, mas em
Portugal 45% dos directores nunca o fez. E só 40% dizem ter tido formação para
a liderança (a média é 67.1%). Em comparação, a maioria dos directores está satisfeita com o
trabalho que tem – 98,1% para uma média de 95,6% e 30,4% acreditam que ser professor é
valorizado na sociedade, sendo a média de 44%.
Indisciplina
Os professores também são, em média, mais velhos (44,7 anos) do
que nos outros países (42,9) e passam mais anos a ensinar – 19,4 anos para uma
média de 16,2. Em Portugal, 82,1% dos docentes completaram estudos ou formação
na área da educação, quando a média é 89,8%. Sobre a gestão das aulas, 75,8% do tempo é gasto de facto a
ensinar (a média é 78,7%), o que significa que os restantes 24% são gastos em
tarefas administrativas (8%) e a manter a ordem na sala de aula (15,7% contra
uma média de 12,7%). O relatório também indica que 39,9% destes docentes dizem ter de
esperar bastante para os alunos se acalmarem no início das aulas, contra uma
média de 28,8%. 40,4 perde muito tempo por causa de estudantes que interrompem
a aula – contra média de 29,5%. E 31,1%
considera haver muito ruído perturbador na sala, para uma média de 25,6%. O facto de os alunos chegarem atrasados é apontado por 58% dos
directores, um valor também acima da média que se situa nos 51,8%. Os atrasos
juntam-se ao vandalismo e aos roubos, enquanto situações que acontecem
semanalmente, e neste caso representam uma percentagem de 7,4%, quando a média
é de 4,4%. O uso e posse de drogas e álcool corresponde a 3,6%, acima dos 1,2%
de média. As lesões físicas provocadas por violência entre os alunos
correspondem a 5% dos comportamentos apontados, quando a média é 2,3%, e a
intimidação ou agressões verbais a professores ou funcionários é de 5,5% contra
uma média de 3,4%. Os professores portugueses abrangidos neste estudo têm uma
componente lectiva que ronda as 21 horas por semana, acima da média que é 19
horas, e também passam mais tempo a preparar e planear aulas (nove horas por
semana, duas acima da média), e dez horas semanais a marcar e corrigir
trabalhos, o dobro da média. Portugal é ainda um dos cinco países em que os
docentes que dizem ter mais horas de trabalho são também aqueles que tendem a
ter níveis mais baixos de satisfação. Segundo o relatório, a média de alunos em
Portugal por escola ronda os mil e é quase o dobro da média. "
fonte: Jornal "Público" - jornalista Maria João Lopes