quarta-feira, 25 de abril de 2012

Dia 25 de Abril... a nossa Homenagem!

De forma simples, coerente e sentida, a nossa homenagem a todos quantos pugnaram pela liberdade e democracia no nosso país.

"CIDADANIA  -  DA AUSÊNCIA À CONQUISTA  E POSTERIOR DEGRADAÇÃO"


Cidadania,no tempo da “outra senhora”
era heresia.
Ser cidadão, e dizer Não,
dava prisão.

Ser cidadão,era apenas
 ter cartão.
E mais não.

Nesse tempo,
Maria, era simplesmente maria.
O marido era o chefe.
Maior chefe era o patrão.
Mas o maior de todos,era o Chefe da Nação.

As ordens vinham de cima,
não havia discussão.
Obediência total,
Tudo a bem da nação!...

Era o tempo do sim,
do sim senhor.
E quem mandava na terra,
era o Sr. Regedor!

Tudo era regido
por mão férrea de Belém.
Até na própria cultura, havia ferro também.

Ferrugento era o país,
 na engrenagem entalado.
As notícias e o saber
tudo era  controlado.

Tínhamos muitos deveres,
a nação o exigia.
Direitos, só para alguns,
para o povo nada havia.

Nesse tempo, cidadania,
Era cumprir, ser servil.
Intervir, questionar,
era crime, coisa vil.

Nas escolas, nas igrejas,
havia separação.
Os homens estavam sozinhos,
as mulheres com eles, não!

E tudo, a bem da nação!...

O ensino superior,
era pra quase ninguém.
Hospitais, poucos havia.
Para o povo, nem vintém.

Os mancebos iam pra tropa,
para a guerra colonial,
exercer “cidadania”
em nome de Portugal.

E isto durou,
que se fartou!….
Até que um dia, era Abril,os soldados de então,
disseram NÃO!!!

Foi Abril de 74, era 25.
Cravos vermelhos floriram
neste país, há muito amordaçado.

Os soldados abriram as portas da liberdade.
O povo veio para a rua.
E quem ousara dizer não,
saiu da prisão.

 No céu azul
uma gaivota voava, voava,e o povo cantava:
-  Como ela somos livres!
Somos livres de voar…

Foi lindo, muito lindo,
o aroma da alegria,
o  sentir fraternidade,
conquistar cidadania.

Com Abril,
na mais linda revolução,
o sol sorriu e disse:
Todo o mundo é cidadão.

Portugal era uma bandeira
que guiava novos e velhos.
Feita de verde e esperança,
feita de cravos vermelhos.

E a Maria, passou a ser
bem mais que simplesmente.
O chefe virou companheiro.
Chefe agora, só cozinheiro.

Portugal passou a ter
cidadãos de corpo inteiro.
Diziam o que pensavam
no café e no terreiro.

Formações partidárias
diversas e diferentes
traduziam o sentir
do país, das suas gentes.

Saído da revolução
como a arma do povo,
o voto escolheu então,
um destino, um país novo.

Construíram-se estradas,escolas e hospitais.
E na televisão
surgiram novos canais.

A terra a quem a trabalha,
foi grito que fez efeito.
A nacionalização da banca
 foi levada a preceito.

Todo o mundo se dizia
democrata, cidadão,
alguns falavam verdade,
muitos outros é que não.

Por isso então se dizia:
“Cravo vermelho ao peito,a todos fica bem,
sobretudo faz jeito,a certos filhos da mãe”.

No mapa feito vermelho
instalou-se a confusão.
O capitalismo avançou
com a contra revolução.

Os cravos viraram rosas
e depois estas murcharam.
Feneceram as flores
num país com outras cores.

O mapa ficou laranja
com azul em complemento.
E estas cores misturadas
o que dão é só cinzento.

Novamente floriram
as rosas que não morreram.
Os cravos, os cidadãos
nem por isso os quiseram.

A Comunidade Europeia
abriu as portas aos Lusos.
Mandaram fundos, dinheiro,
pra projetos obtusos.

E muitos “chicos espertos”
refinaram-se na esperteza,
ganhando muito dinheiro
sem produzirem riqueza.

Exercer cidadania, era coisa dos poetas.
Agora o que interessava, era atingir outras metas.

Não cultivar os terrenos
e cortar vinhas a eito
eram ordens de Bruxelas
que pagando dava jeito.

E o povo obediente
não pensava com o toutiço.
Não via que dava um porco
pela troca dum chouriço.

Muito mais que os cereais
cresceu o cimento armado.
Ficaram casas a mais
num país transfigurado.

A bolsa virou casino
e a banca “porreiraça.”
Aos chicos dava dinheiro
a juros quase de graça.

Shoppings e coisas tais
cresceram  por toda a parte.
Fazer vida de luxo
Era chique, era arte.

As revistas e tvs
os famosos promoviam.
Quanto mais fúteis melhor.
Era isso que queriam.

A política para muitos
foi de todo invertida.
Em vez de servir o povo,
deu arranjinhos de vida.

O povo ficou acrítico
como que anestesiado.
Exercer cidadania
virou coisa do passado.

Os pais puseram os filhos
Nos jardins e nas escolas.
E para os não aturarem,
ofereciam-lhes consolas.

Coisas que nunca tiveram,
deram aos filhos os pais.
Fizeram deles doutores,
engenheiros e coisas tais.

Portugal nunca tivera,
juventude tão formada.
Só que a oferta de emprego,
reduzia-se quase a nada.

E a ilusão
Virou frustração!

Viveu-se num patamar
bem acima do real.
De repente descobriu-se
que era tudo virtual.

Faliram empresas aos montes
com a banca à mistura.
Havendo gente então
desejando a ditadura.

A crise não é para todos.
Que o digam os gestores.
Alguns ganham num dia,
que num mês trabalhadores.

Fazedores de opinião,
Analistas competentes,
Opinam, dão soluções,
Aos problemas prementes.

Muitos deles experientes
Pelos cargos que tiveram
Falam como se nada tivessem
Com a crise que criaram. 

A culpa morreu solteira
Num país comprometido.
E o nariz do nosso primeiro
 Cada vez é mais comprido…

E assim vai Portugal.
Uns vão bem
E muitos mal…

SAL   2012


O NE25A, agradece ao professor Salgado Almeida ( SAL), a cedência do texto

3 comentários:

Filipa Freitas disse...

Adorei este discurso do Professor Salgado Almeida, pois foi um discurso que me diverti à grande, foi de rir até chorar....
Parabéns adorei muito...

Filipa Catarina disse...

Partilho a mesma opinião da Filipa Freitas, este poema mostra a realidade do país antes, durante e após 25 de abril duma forma poética e em tom de crítica. Parabéns ao professor Salgado Almeida pela originalidade deste texto.

Anónimo disse...

Muito bem feito este poema, com um sentido critico excelente que nos dá uma prespetiva muito concreta do antes e do após 25 de abril.Mostra-nos também o degeneração dos ideais de Abril com a entrada de Portugal para a CEE,do receber para não produzir, por isso chegamos ao fosso onde nos esncontramos. Parabéns não conheço o autor mas está excelente.

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