O "Opinião", é
um espaço de divulgação de textos que mostrem a liberdade nas suas
diferentes matizes. Este
espaço é da responsabilidade dos autores de cada texto, estando
o NE25A aberto à publicação de textos que nos queiram enviar (obedecendo às
regras de uma cidadania responsável e democrática).
O de hoje
é da responsabilidade de Zeferino Lopes,professor.
"Austeridade
e efeitos perversos.
Paul Krugman,
prémio Nobel da Economia, no seu recente livro «Acabem com esta crise, já!»
publicado na Editorial Presença, 2012, mostra com provas empíricas e
raciocínios lógico-dedutivos que a política da austeridade não conduz a
resultados práticos positivos pois faz crescer o desemprego, diminuir o PIB,
aumentar as falências e produz efeitos contrários aos esperados como seja o
desequilíbrio das finanças públicas. Com efeito, as empresas falidas e os
desempregados deixam de pagar impostos e a segurança social, logo menos receita
para o Estado e para a Segurança Social. Entretanto a despesa com a segurança
social aumenta devido ao aumento dos desempregados.
A política da
austeridade, que é no final de contas uma política de poupança forçada nuns
casos e desejada noutros, tem efeitos perversos contrários àquilo que seria
suposto prever.
Para
percebermos o conceito de «efeito perverso» vou dar um exemplo simples retirado
do trânsito: Imaginemos que quero deslocações mais rápidas e cómodas num espaço
urbano qualquer. Em vez de usar transportes públicos compro um carro para as
minhas deslocações e a coisa parece resultar se for só eu e mais alguns a fazer
o mesmo. Mas imaginemos que por um processo de imitação todos pensam e agem de
igual forma, quer dizer, todos se deslocam de carro: as estradas e ruas
entopem, engarrafamentos brutais, desgaste de combustível e de nervos, perdas
enormes de tempo e energias: conclusão – é mais rápido andar de bicicleta ou
mesmo a pé! Todos querendo fazer o bem acabaram por produzir o mal.
Na economia
passa-se o mesmo. A política da austeridade, que conduz à poupança forçada de
muitos e à poupança voluntária de outros tantos com o medo da crise, faz com
que não haja investimento com medo de que não haja retorno, pois o consumo
diminuiu e também diminui o consumo porque o valor das reformas e pensões e
salários baixou e outros querem poupar: a loja não vende e abre falência e
manda gente para o desemprego; a fábrica não produz porque já não tem a quem
vender e abre falência mandando mais umas centenas ou milhares para o
desemprego. Conclusão: a poupança que parece ser uma coisa boa se for praticada
só por algumas pessoas ou empresas, torna-se numa coisa má se for generalizada
(Se os restantes países europeus também praticam a política da austeridade a
quem vai Portugal vender os produtos destinados à exportação?)
É esta
situação que se passa atualmente em Portugal. Os níveis de poupança subiram e
isso é dado como uma boa notícia por aqueles que não percebem os meandros da
economia. Na prática é uma má notícia porque significa menos procura, menos
consumo, menos comércio, menos indústria e menos trabalho, menores ganhos.
Depois a poupança do Estado no corte das pensões, no corte ao investimento
público, também produz os mesmos efeitos: paralisação da economia. Todos
querendo poupar, publico e privados, todos julgando fazer o bem acabam por
produzir o mal: desemprego, diminuição do PIB, empobrecimento, miséria e fome.
A austeridade, como remédio da crise, torna-se no seu próprio alimento: gera
crise que gera mais austeridade que gera mais crise. É uma profecia
auto-realizadora!
Não há dúvida
que os nossos políticos adeptos da austeridade e poupança são “inteligentes”:
desenvolvem uma política que tem como resultado o inverso do desejado ou
esperado! Será que eles sabem o que são «efeitos perversos» na economia?"
Penafiel,
Julho de 2013,
Zeferino
Lopes
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